Morcelas
Durante a matança do porco, guarda-se o sangue num
alguidar e deita-se logo de imediato sal, uma folha de louro e uma gota de
vinagre, mexendo sempre sem parar, para evitar que o sangue coalhe. Deixa-se
arrefecer o sangue e junta-se o pão duro esfarelado previamente. Mistura-se
tudo muito bem e acrescentam-se a salsa picadinha, as tripas e as gorduras do
porco cortadas aos pedacinhos pequenos com uma tesoura, os cominhos e os
orégãos e mexe-se tudo novamente. Quando estiver a mistura bem compacta,
enchem-se as tripas previamente lavadas. Numa panela com água a ferver,
colocam-se as morcelas a cozer por pouco tempo. Picam-se com uma agulha e
quando já não deitarem sangue, estão cozidas e prontas para se retirarem do lume.
Penduram-se numa vara durante dois dias.
- Sangue do porco (matança)
- Tripas e gorduras do porco
- Pão de Centeio caseiro
- Salsa
- Cominhos
- Orégãos
- Azeite
- Louro
- Água
- Sal
Usos costumes associados
A matança do porco era uma prática corrente e alguns dos produtos alimentares tradicionais elaborados a partir das suas carnes e do sangue, como os enchidos, faziam-se para abastecer a dispensa de muitas famílias para todo o ano. Atualmente, a importância e o significado destes produtos artesanais na alimentação baseia-se sobretudo no seu cariz gastronómico a nível regional e local. Antigamente, a morcela comia-se usualmente com pão centeio, queijo e azeitonas. Os enchidos sempre estiveram associados à economia rural das gentes da Beira, sendo muito utilizados nas refeições como “conduto” do pão. Estes alimentos compunham muitas vezes a refeição do almoço (que no passado se designava jantar) das pessoas que passavam o dia a trabalhar no campo. A morcela permitia aproveitar as carnes mais difíceis de conservar e o saber e a tradição fazem com que o seu sabor e aroma característicos e intensos ainda hoje se mantenham, proveniente sobretudo dos cominhos que a temperam.
Atualmente,
a morcela pode servir-se como entrada ou petisco, mas participa em alguns
cozidos bem conhecidos. Em termos nutricionais, destacam-se como elementos
positivos a sua riqueza em ferro e cálcio e, como elementos negativos, a sua
composição elevada em ácidos gordos saturados. Deste modo, tal como acontecia
noutros tempos, em que as pessoas tinham hábitos alimentares mais saudáveis, o
consumo desta iguaria deve ser moderado e ocasional.